quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Promoção de Saúde e Psiquedélicos! [Portas da Percepção #195]

por Fernando Beserra

Muito se fala em Promoção de Saúde no dias atuais: mas, afinal, o que é promoção de saúde? Uma das principais referências que tem norteado as pesquisas e a atuação em promoção de saúde é a definição presente na Carta de Ottawa de 1986, documento que se tornou referência no campo da Saúde Pública e que a modificou radicalmente. Promoção de Saúde, neste caso, pode ser definida como “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. Envolve a capacitação das pessoas e comunidades para modificarem os determinantes da saúde em benefício do próprio bem-estar físico, psíquico e social através da ampliação de consciência das pessoas sobre os determinantes saúde-doença e do empoderamento dos cidadãos.

 

Para se atuar em promoção de saúde faz-se necessário ir além do paradigma da saúde como ausência de doença. Para a gestão de saúde torna-se necessária a análise de indicadores relacionados à saúde como educação, saneamento, lazer, dentre outros envolvidos em um processo complexo e multidimensional.

 

Como pensar neste polêmico tópico: “psiquedélicos e promoção de saúde”? Para que sejamos coerentes, será necessário estabelecer se é possível a ampliação de conhecimentos dos usuários sobre os determinantes da saúde relacionados ao consumo de psiquedélicos e o empoderamento sobre seu consumo, bem-estar físico, psíquico e social.

 

Já sabemos que é bem documentado e teorizado, p.ex, através de Timothy Leary, Stanislav Grof, Claude Olievenstein, Krystle Cole, etc. a importância do trinômio “substância – contexto – usuário”, do binômio set-setting ou ainda da tríade: “set-setting-cuidador” para a boa evolução no uso de um enteógeno ou psiquedélico e, de modo ainda mais abrangente, da maioria das substâncias psicoativas. Portanto, ao fornecer informações fidedignas sobre os distintos usos de enteógenos e mesmo realizar relatos bem fundamentados sobre “viagens” ou mirações, está se fazendo promoção de saúde, pois influenciando positivamente a possibilidade de viagens bem sucedidas. Ao contrário, quando se está fomentando um uso irresponsável, se denegrindo informações e tirando a autonomia dos usuários, está sendo prestado um desserviço a saúde. É por isso que, de modo geral, a grande mídia tem sido uma criadora de bad trips e de usos irresponsáveis, assim como usuários menos conscientes.

 

Neste post não vamos nos aprofundar em nenhum dos meios de se realizar promoção de saúde acerca do consumo de enteógenos, mas vamos ao menos “dar nome aos bois”, isto é, expressar o que entendemos serem possíveis atos de promoção de saúde no campo da enteogenia.

 

Formas de produção de saúde e enteógenos:

* Criação de redes de usuários

 

* Ampliação de conhecimento científico sobre enteógenos, ou seja, por um viés menos ideológico

 

* Ampliação do conhecimento sobre formas de uso mais saudáveis e menos perigosas. (Tanto em meios gerais como palestras, livros, sites na web, fóruns, até a criação de espaços de redução de danos em raves ou festas onde é sabido que ocorrerá uso de psiquedélicos ou entactógenos).

 

    • * Especificação de cuidados necessários para o consumo de enteógenos peculiares.
    • * Utilização pelos usuários da figura do cuidador
    • * Conhecimento abrangente pelos usuários dos transtornos psicológicos específicos (p.ex, equizofrenia) incompatíveis com o uso de enteógenos
    • * Ampliação dos conhecimentos dos usuários sobre interações medicamentosas e consciência de como interromper um bad trip de forma psicológica ou farmacológica.
    • * Conhecimento sobre formas de alimentação adequadas que precedem ou sucedem o uso de um enteógeno específico.

Essas são apenas algumas formas. Convido o leitor a também expressar seu ponto de vista sobre o assunto!

6 comentários:

  1. Me diz um estado Brasileiro que olha pela saúde da população.....

    Brasil bandeira marrom!

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  2. Eu posso estar errado mas acho que o termo correto é PSICODÉLICOS. Bom texto...
    Abraçs.

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  3. Olá Anônimos.

    No Brasil é comumente falado: "psicodélicos" que viria de psycho + delos ou delia, significando revelação da mente ou da alma. Existe uma discussão iniciada com Aldous Huxley e Humphry Osmond sobre estes termos, se seria em inglês "psychedelics" ou "psychodelics" e, lemos no original, psychedelics, daí a tradução como psiquedélicos e não psicodélicos.

    Psico, segundo Huxley, daria a aproximação/conotação de psico(se) enquanto psique vai direto ao termo original de mente/alma. Daí a escolha de seguir Huxley em Psiquedélico.

    Eu estou escrevendo sem pegar nenhum referência dos escritos dos autores. Acho até que tem um post no hempadão que debati isso.. depois eu vejo se trago o debate mais aprofundado sobre a questão.

    Forte abraço,
    Fernando Beserra

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  4. Tem uma frase no filme Quebrando tabu, que diz que o ser humano é muito louco por natureza, sempre vai querer usar algo. o Problema é informar a galera pra saber que cada droga tem uma finalidade, e crack não presta... Desde que comecei a fumar eu converso com jovens que são novatos na cannabis, explicando pra ficar longe do crack, e nao vacilar em casa, mostrar que podem fumar maconha nas horas certas e exercer todas as atividades designadas ao mesmo, pra evitar a famosa situação do filho começar a fumar, e só fumar. As pessoas precisam de informação para usar corretamente as coisas sem ter grandes danos a si mesmo e as pessoas que o rodeiam...


    Lauro Sarturi Júnior

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  5. Legal Lauro,

    Concordo plenamente com o que você colocou.

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  6. Gostaria de aprender como interromper um "bad trip", sou muito afetado por isso!

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