sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Como Trabalhar com Experiências Psiquedélicas Difíceis?! [Portas da Percepção Ed. 200#]

por Fernando Beserra

Galera, para contribuir com a tradução que já realizamos do Neurosoup trip guide de Krystle Cole, que discute com propriedade a questão das bad trips e as formas de lidar com ela no uso de psiquedélicos, vamos nas próximas três semanas traduzir um Manual da MAPS (Multidisciplinary Association for Psychedelics Studies), disponível em inglês no site dos caras, que é referência. O Manual de como trabalhar experiências psiquedélicas difíceis é mais um passo para refletirmos sobre a Redução de Danos no uso de psiquedélicos e criarmos formas mais seguras para nossos usos particulares, de amigos ou conhecidos e, finalmente, espero que possam contribuir para criar uma cultura de consumo de psiquedélicos responsável.

 

Manual: Como trabalhar com experiências psiquedélicas difíceis

Fonte: Multidisciplinary Association for Psychedelics Studies (MAPS)

 

Uma verdadeira experiência psiquedélica, mesmo uma chamada de “viagem ruim” (bad trip), é sagrada. Em orientações de terra (earth-oriented), culturas xamânicas, mesmo a crise psicótica, induzida por um psiquedélico, é parte da iniciação.

 

 

Então se lembre do caminho dos antigos: isso é um processo, um processo de ir acordando (awakening), curando-se e, finalmente, celebrando a vida.

 

Para evitar psicologizar a experiência psiquedélica eu tenho evitado linguagem médica ou tradicionalmente terapêutica.

 

Um panorama do que vamos cobrir:

1. Regras para o cuidador ou facilitador

2. Variedades de crises induzidas por psiquedélicos

3. Trabalhando e estando com emergências psiquedélicas

4. Depois do cuidado (Aftercare)

5. Leituras Relacionadas

 

Este é um breve panorama do material que nós vamos cobrir neste treinamento. Ele é baseado em 30 anos de experiência cuidando (sitting) de pessoas. Ele tem valor terapêutico, mas vai além da terapia e move-se no reino espiritual e transpessoal.

 

O manual é baseado em treinamento, instrução, ensinamentos e trabalho prático com lideranças do movimento psiquedélico e no trabalho prático com curadores/xamãs do Nepal, Equador e da nação Navajo. Ele é baseado no meu próprio trabalho terapêutico e de cura usando psiquedélicos, psicologia ocidental, trabalho corporal, com respiração, arte e diferentes ferramentas orientais como meditação, koan Zen, estudo e trabalho natural (nature work).

 

Função do Cuidador (sitter) ou Facilitador

O trabalho com psiquedélicos, enteógenos, e plantas professoras é uma área da arte curativa que é arcaica e foi redescoberta nos últimos 100 anos. Há muitas diferentes formas de trabalhar e entender a experiência psiquedélica. Quando trabalhamos e cuidamos de uma pessoa direcionando-se a uma crise induzida por psiquedélicos, é importante entender que de certa forma este é um relacionamento dialético, uma forma de relacionar-se que é arcaica.

 

Toda pessoa é um sistema psicoespiritual, significando que não há separação entre corpo, mente, emoção, alma, imaginação e energia. Por consequência é importante ver cada pessoa como um indivíduo único.

 

Sempre há a tendência de subjulgar o outro com nosso conhecimento, sabedoria e insights. Então deixe partir todo conhecimento observando as experiências que a pessoa está tendo. Apenas fique junto, escute e observe. Isto nos traz de volta ao relacionamento dialético prestando toda atenção, permitindo ao outro que expresse e comunique tudo o que ele quiser. Apenas ser, sem julgar ou colocar para baixo.

 

É importante para o cuidador/ajudante/curador acreditar em seu modo de trabalhar. A crença no método é importante para os resultados. O cuidador, portanto, é alguém que já teve suas próprias experiências psiquedélicas e já tem alguma experiência cuidando de pessoas, guiando seus amigos. Sem nenhuma experiência é impossível apenas estar com alguém tendo uma experiência psiquedélica ou guiar alguém tendo uma crise psiquedélica. É bom saber que todos nós temos pontos cegos e há o perigo que nós podemos parar a experiência se nós não explorarmos o material ou estivermos com medo.

 

Regra #1, sobre qualquer condição, é que honremos e respeitemos a pessoa que está tendo a crise.

 

Mesmo se não entendermos o que está acontecendo (a pessoa tendo a crise pode ser muito mais desenvolvida do que nós, perdida em palavras que nos são desconhecidas ou revivendo um drama que nós não podemos compreender), nós servimos como âncora, um lugar de resistência, um centro quieto. Sabemos que nossa presença é útil. Neste momento nós temos que resolver todos os problemas e responder a todas as questões apresentadas pela experiência ou pela vida da pessoa.

 

Temos que lembrar que dezenas de milhões de pessoas usaram psiquedélicos, em ambientes muito diferentes, às vezes pouco favoráveis e retornaram para casa seguros. Com suporte, conhecimento e trabalho integrado há muito pouco perigo com a experiência psiquedélica por si mesma. Mesmo o mais assustador e bizarro comportamento, quando explorado e trabalhado junto, passará a ser benéfico e iluminador.

 

Como estabelecido mais cedo, o resultado positivo de nosso trabalho requer acreditar na sabedoria dos antigos, acreditar na sabedoria dos modernos professores e curadores e acreditar na sabedoria embutida (built-in) em nossos corpos, mentes e almas.

 

Nós frequentemente pegamos emoções e sentimentos dos outros. Iremos cobrir formas de limpeza, compensação e purificação.

8 comentários:

  1. muito interessante. se precisarem de ajuda na tradução, me disponibilizo.

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  2. Eu gostava de utilizar psicodelicos em ambientes dificeis, em que necessitava um suposto controle. Quanto mais conflito e bad trip eu tinha, mais eu gostava. Era como se fosse um desafio para minha mente para ser superado. Cheguei tomar LSD e ir para um supermercado de grande circulação. Ou, durante o efeito, num almoço com a família ou em aula na faculdade, quando estudava. Quando mais controle existe, mais bad trip! Quando não há controle, a mente simplesmente flue. Qualquer preocupação é uma ilusão da mente. Uma mente sem preocupação, é uma mente livre! Por isso, é bom liberar a mente completamente.

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  3. e viva os psicodelicos !

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  4. Oi Vivian,
    Este é um texto pequeno. Agradeço a disposição, mas acho que dá para tocar..

    Agora existe uma ajuda que seria muitooo bem vinda. Estamos precisando de um revisor para a tradução do Neurosoup Trip Guide que traduzi aqui no Portas da Percepção. Com uma revisão podemos disponibilizar o livro no site da Krystle e aqui no Hempadão inteiro..

    Qualquer coisa, só enviar um email para mim no fernando.beserra@hotmail.com

    Forte abraço,

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