quinta-feira, 10 de setembro de 2009

[#2] FENACUCA - Prosa: Sob uma Democracia Burguesa!

É verdade, estou cansado; tenho passado muito tempo em casa, fumado, meio largado, pensando em tudo o que há para se fazer – e que eu não quero. Às vezes, quando sou obrigado a aprisionar-me dentro de um pequeno espaço no ônibus lotado, percebo que me jogo no banco como um viciado, e que talvez eu seja um – viciado em sexo e desejo de consumo transbordando em promessas de satisfação por todos os míseros cantos da cidade. E eu cada vez mais impotente de consumir tantos alimentos industriais, jornais e televisão.

Há noites em que saio e encho a cara de soluções baratas, poucos Reais por garrafa; ou então fecho os olhos e atravesso sem medo ruas movimentadas, apenas porque estou farto e desiludido. Farto desta segunda feira que parece nunca terminar e de todas as outras segundas antes dela e depois dela, e de todos os dias entre elas (que nunca terminam e são todos iguais). Aliás, tudo é sempre igual neste país; a política é sempre o mesmo jogo, as notícias são sempre o mesmo engodo.

É verdade, estou desiludido, preciso de heróis e ídolos... nem que seja apenas para rejeitá-los e quebrá-los todos. Mas já não há heróis e ídolos, tudo é ido depois de tantas lutas vencidas e perdidas; mas este talvez seja o resultado das guerras não? Mesmo o das feitas por amor e ilusão. E todas elas o são.

Mas eu ainda existo e sinto vontade de por fogo em algo (mesmo que seja na última de minhas paixões, mesmo que seja para destruir e acabar com a última das soluções). E é por isso que sou um pulha assumido.

Eu não queria ser, mas o que fazer? É sempre inútil evitar o que já faz parte de
você. Deixem-me escrever!

Escreverei agora um texto tão egoísta quanto um gordo capitalista americano, ou
mesmo brasileiro, que não se importa se a sua multinacional multiplica a miséria nacional de um país qualquer de sombra e fome como este aqui. Sim, quem me dera escrever um texto tão egoísta que chegasse ao ponto de cair na glossolalia dos discursos políticos que vemos todos os dias ou então tão egoísta que não passasse de arte abstrata, como tantas daquelas obras que servem de masturbação mental para aqueles críticos e artistas de merda que se julgam intelectuais. Eu gostaria de escrever um texto tão egoísta que defendesse a idéia estúpida de que só porque o mundo é vazio e sem sentido a arte também o deva ser. Eu gostaria de escrever um texto tão egoísta quanto as pessoas em um hipermercado 24h – satisfaça-se agora – ou na segurança burguesa de seus bens e famílias de capa de revista. Um texto tão egoísta quanto a ganância que move o mundo e nos dita o rumo,um texto tão egoísta que não contivesse uma gota sequer de poesia, um texto tão egoísta que ninguém estranharia.

Eu gostaria de escrever um texto egoísta, simplesmente para que o mundo pudesse reconhecer-se na arte e transformar-se... mas eu não posso. E eu não posso porque se o fizesse, eu e meu texto seríamos como tudo mais no mundo; e isso eu não quero.

Eu lhes digo o que quero: liberdade.

Que morram políticos egoístas, que deponham e degolem governantes, que castrem todos aqueles que tiverem coragem de usar a palavra estado, ou de proibir quem quer ser livre da palavra estado. Mas acima de tudo: que façam qualquer coisa, já não importa mais. Sejamos como os loucos, sejamos como lobos.

Há muito tempo que a única felicidade possível é o eterno nirvana anestésico dos
sentidos. Acabemos com tudo sem mais nem menos, tornemos tudo em cinzas: sejamos livres, sejamos os últimos utopistas.

Autor:  Thales Milani Gaspari
Profissão: Artista Plástico
Idade: 25 anos 
Piracicaba/São Paulo

7 comentários:

  1. mto loko... aposto que escreveu na vibe haha

    sério,as vezes me sinto assim tb.... descreve mto bem varias coisas... verdadeira obra de arte!!!

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  2. Das melhores coisas q já li no hempadão, parabens ae amigo! o desfecho do texto principalmente foi o mais profundo, foda... nirvana anestésico dos sentidos, perfeita essa expressão para demonstrar o que dita a vida nessa sociedade irracional.

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