sexta-feira, 11 de setembro de 2009

[#8] FENACUCA - Prosa: Não Sei!

Eu não sabia descrever o que eu sentia. Meu peito parecia carregar o peso de um camelo. Minhas orelhas queimavam com a vibração da música búlgara que tocava naquele momento. Meus 130 Kg de pura gordura pareciam ter apenas o peso de um prato de salada destes restaurantes finos. As unhas de meu pé, que foram cortadas no dia anterior, eram sentidas enquanto cresciam. O sangue, que quase espirrava em meus olhos, me deixava sonolento ao ponto deu pescar sentado no sofá. A única coisa que me passava na cabeça era “Eu definitivamente não deveria ter misturado tudo isso”.

De repente, eu lembro que tenho um copo repleto de Whiskey e gelo barato. A bebida foi comprada na loja do posto de gasolina que, por sinal, fica perto da minha finíssima casa com estilo gaélico-europeu. Eu sacudo para acordar e me alongo até alcançar o copo de requeijão (peço licença aqui para abrir um parênteses. Eu sempre tive uma preferência pelas coisas simplistas. Só bebia whiskey por estar na Irlanda, se em Dublin existisse cachaça eu te garanto que tomaria daquelas mais baratas. Acredito que, por isso, optei pelo copo de requeijão ao invés da taça mais apropriada para a bebida: para não fugir completamente da minha origem). O barulho do gelo na beirada do copo me desperta, como fez o sino da catedral aos meio-dia dos últimos dias.

Por sua vez, o barulho da campainha me assusta. A mulher na música grita “que coisa boa”. Quem entra é uma estrangeira desconhecida. Não, eu me enganei. A estrangeira é conhecida. Na verdade ela não é estrangeira, o estrangeiro aqui sou eu. A música geme dizendo “ehhh, uhhh”. Alguém grita meu nome lá em baixo, mas eu prefiro fingir que não ouvi a me mover do sofá. Escuto passos na escada que, provavelmente, são da estrangeira que é nativa. Quando pego meu copo desperto novamente com o som dos gelos no vidro de meu copo barato.

Após alguns minutos de distração fútil, que nem sequer merecem ser mencionadas, eu volto a escrever. Mas um breve bafafá me interrompe e me faz parar por alguns minutos. “Aquarela” toca em versão rap no som. Eu não entendo por que isso acontece, por que alguém fez tal coisa com tão boa canção. Nada contra o Rap, pelo contrário, até admiro o estilo. Porém, algumas músicas não deveriam nunca ter versões, pois sempre ficarão piores. Neste momento a minha sinusite dá sinal de vida e me lembra que no dia seguinte duras provas de sobrevivência serão aplicadas a mim. Ou não. Tudo depende se eu conseguirei realmente acordar pela manhã.

Uma dor aguda no meu nariz me lembra que minha barriga pede algo nele, não sei por que. A dúvida cruel reaparece: meu estômago me pede o copo recheado de álcool, será algum alimento – como pão com manteiga - o que ele quer?

Ninguém jamais saberá a resposta certa. E, por isso, eu decido que irei optar por ser centro-esquerda nessa eleição. Votarei na escolha pelo copo seguido do preparo do pãozin e mais uma dose de líquido enquanto como. Tudo isso seguido de um pouco mais de fumaça. Na verdade, depois que me levantei do sofá eu resolvi alterar a ordem, e esfumacei primeiro, uma vez que eu já começava a retomar minha lucidez. Mas ao me levantar, de repente – de um momento para o outro, do mais completo nada – , eu percebi que o que me afligia era outra coisa. O sono.

Autor: José Camilo
Idade: 20
Profissão: Estudante de Jornalismo
Belo Horizonte / Minas Gerais

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