[Ed. #89] Chapa2: A Guerra continua e não tem data pra Acabar!

por Tales Henrique Coelho

Em meio à grande discussão gerada pela votação da Proposta 19 na Califórnia sobre as urgentes e necessárias mudanças nas políticas de drogas de todo o mundo, infelizmente surgem notícias que mostram estarmos ainda distantes destes objetivos. Na sexta-feira que sucedeu a votação na Califórnia, autoridades mexicanas informaram que o chefe de um dos mais poderosos cartéis de drogas do país fora morto em um tiroteio com a marinha. Ezequiel Cárdenas Guillén (foto), o “Tony Tormenta”, foi mais um cadáver produzido por uma guerra insana que está acontecendo no México, que já vitimou milhares de pessoas em todo o país, desde policiais, traficantes, e principalmente inocentes. Depois desta ação de guerra, o presidente dos EUA, Barack Obama, rapidamente reafirmou total apoio a essa política.

Obama gostou da operação pois a guerra no México chegou a níveis alarmantes, chegando ao ponto de vitimar turistas americanos que estavam de férias no país. Aí sim, incomodou os poderosos, porque enquanto eram “chicanos” pobres morrendo, não fazia diferença. O presidente norte-americano não percebe que justamente por causa desta política de guerra é que se chegou a esta situação. A guera às drogas só faz crescer o tráfico de armas e o poderio bélico dos traficantes.

Após a “bem sucedida” operação de assassinato, Obama ligou para o presidente do México, Felipe Calderón, para reafirmar “o apoio dos Estados Unidos aos esforços do México para acabar com a impunidade dos grupos criminosos organizados”. Enquanto isso, a demanda por drogas só cresce no mundo, e principalmente nos EUA, que respondem a isso transformando o país vizinho numa zona de guerra.

Lá no México, como no Brasil, costuma-se comemorar o assassinato ou a prisão de um “chefe do tráfico”, como se isso fosse um grande avanço. Mas será que o México será um país mais seguro agora, com a morte de “Tony Tormenta”? Por acaso o Brasil ficou mais seguro depois que o Fernandinho Beira-Mar foi preso, ou o Rio de Janeiro depois que o Bem-te-vi da Rocinha foi morto? Claro que não. Este telefonema de Obama representa o outro lado desta luta que travamos e noticiamos diariamente aqui no Hempadão. É o atraso, a reafirmação de que a “War on Drugs” vai continuar a moer vidas em massa em toda a América Latina.

Darcy Ribeiro dizia que o Brasil é um “moinho de moer gente”, referindo-se à matança sem fim de índios, negros e pobres durante toda a nossa história. Hoje em dia a coisa está mais sofisticada, a “War on Drugs” financiada e estimulada pelos EUA é uma verdadeira indústria multinacional de trucidar vidas de negros, índios, mestiços e pobres em todo o continente.

Morrem inocentes, não-inocentes, agentes da lei, milhões são gastos em armamentos, e isso não leva a lugar nenhum. Não podemos nos deixar enganar pelo discurso falso moralista de que é preciso acabar com as drogas, que justifica esta guerra. O consumo de drogas sempre existiu, e sempre vai existir. É preciso ver que a guerra às drogas é lucrativa para muitos, e atende a interesses multinacionais poderosos. Fabricantes de armas, munição, equipamentos, firmas de segurança particular e blindagem de carros, são só algumas das muitas áreas poderosas da economia que ganham com o estado de guerra permanente que se instalou em toda a América Latina. Será que eles realmente querem que isso tudo acabe?