[Ed. #93] Chapa2: Liberdade ainda que Tardia!

por Tales Henrique Coelho

 

Notícias falando sobre a discussão acerca da legalização das drogas, principalmente da maconha, surgiram em jornais e principalmente na internet nos últimos dias. No domingo, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, disse em entrevista à Folha de São Paulo e à RedeTV que vai sugerir à presidente eleita Dilma Roussef que leve o debate sobre a legalização da maconha à fóruns internacionais.

 

Depois foi a vez do diretor  de Tropa de Elite, José Padilha, defender a legalização da maconha, repercutindo as declarações do governador. Por outro lado, uma pesquisa feita pelo instituto Vox Populi mostrou que o conservadorismo ainda impera no País em relação a temas como as drogas, casamento homossexual e o aborto.

 

São notícias diferentes que merecem análises mais aprofundadas sobre o que cada uma representa. Sérgio Cabral poderia fazer muito mais do que passar a “pica” para a Dilma, como diz a gíria imortalizada pelo filme de Padilha, mas isso já é tema para outro texto.  No entanto, as notícias juntas servem para mostrar um panorama da discussão sobre drogas no País, que tem avançado nos últimos anos mas ainda precisa avançar  muito. Como disse em outro texto, a recente “Guerra” no Rio de Janeiro acabou levantando discussões sobre as drogas, tráfico e usuários, ainda que motivada por manifestações quase fascistas de muita gente. O debate de idéias, a discussão franca e honesta sobre o tema, indo além de preconceitos e estereótipos, deve ser vista como um fato importante.

 

Até mesmo a pesquisa encomendada pelo IG ao Vox Populi pode ser vista de uma forma positiva, mesmo com 87% da população rejeitando a ideia da descriminalização das drogas. Simplesmente pelo fato de um órgão da imprensa ter investido dinheiro numa pesquisa de opinião sobre esses temas, já é algo. Sabemos agora que a maior rejeição é no Nordeste, onde o índice de rejeição chegou a 93%. O resultado mostra que ainda precisamos avançar muito nesta discussão, que deve ser encarada por todos nós como uma luta política séria. O problema da violência e das drogas nas grandes cidades só poderá ser resolvido se este movimento crescer de maneira séria em todo o País. E é dever de todos nós que acreditamos nisso levar este debate para onde formos, de maneira calma e responsável.

 

O caminho é longo, difícil, e o processo é lento. A opinião "público-privada" deste país é extremamente conservadora, mas os movimentos sociais progressistas tem um papel importante a cumprir nos próximos anos. O Brasil está preparado para a legalização das drogas? Provavelmente não, é o que acho pessoalmente. Mas o Brasil está preparado para continuar com esta política de drogas que criminaliza a pobreza e só gera guerra e morte?  Com certeza não.  É neste caminho que devemos insistir e persistir. Um outro Brasi é possível, e ele só será possível quando começarmos a fazer a democracia funcionar de verdade, sem conservadorismos burros e preconceitos idiotas. Mudanças na política de drogas e a reforma de todo o sistema policial deste país são medidas necessárias para fechar as rotas que trazem armamentos pesados para as mãos dos traficantes!