[Ed.#103] OnJack: Cap. 4 Parte 8–Alguém consultou a Associação Médica Americana?

por Rafael Braz

Mesmo no interior das au­diências controladas do comitê, mui­tas testemunhas qualificadas pronuncia­ram-se contra a aprovação destas invul­gares leis fiscais. Por exemplo, o Dr. William C. Woodwa­rd, que além de médico era advogado da Associação Médica Americana (AMA), e testemunhou em nome desta. Ele declarou que a argumentação fe­deral consistia basicamente de histórias retiradas dos tabloides sensacionalistas! Nenhum verdadeiro testemunho fora ouvido! Segundo Woodward, esta lei, aprovada na ignorância, podia negar ao mundo um remédio potencial, em espe­cial agora que o mundo médico estava começando a descobrir os ingredientes ativos da cannabis. Woodward informou o comitê que a única razão por que a AMA não se pro­nunciara mais cedo contra a lei fiscal da marijuana fora o fato da marijuana ser descrita na imprensa há 20 anos como "a erva assassina do México".

 

Assim, só "dois dias antes" destas au­diências da Primavera de 1937 é que os médicos da AMA haviam constatado que a planta que o Congresso tencionava proibir era conhecida medicamente por cannabis, uma substância benigna usada na América há mais de cem anos com perfeita segurança para tratar inúmeras enfermidades.

 

"Não conseguimos perceber ainda, Sr. Presidente", protestou Woodward, "por que motivo esta lei foi preparada em se­gredo durante dois anos sem ter havido qualquer intimação, até mesmo à profis­são médica, de que a sua preparação esta­va em curso".

 

Ele e a AMA* foram expe­ditamente denunciados por Anslinger e a totalidade do comitê do Congresso, e su­mariamente dispensados.

 

*Em 1937, a AMA e a administração Roosevelt eram fortes antagonistas. Quando a Lei de Taxação da Mari­juana foi apresentada para relatório oral, discussão e voto na bancada do Con­gresso, uma única pergunta pertinente foi feita durante a sessão: "Alguém con­sultou a AMA e se inteirou da sua opinião?" O representante Vinson, respondendo pelo Comitê dos Modos e Meios, replicou, "Sim, consultamos um tal Dr. Wharton [pronúncia errada de Woodward?] e [a AMA] está totalmente de acordo".

Com esta mentira memorável, a pro­posta foi aprovada e a lei entrou em vigor em Setembro de 1937. Foram criadas forças policiais federais e estaduais, que encarceraram centenas de milhares de americanos, somando mais de 14 mi­lhões de anos perdidos em prisões e casas de reclusão — chegando a contribuir para as suas mortes — tudo em prol de indústrias envenenadoras e poluidoras, sindicatos de guardas prisionais, e com o fito de reforçar o ódio racial professado por alguns políticos brancos.

(Mikuriya, Dr. Tod, Marijuana Medical Papers, 1972; Sloman, Larry, Reefer Madness, Grove Press, 1979; Lindsmith, Alfred, The Addict and the Law, Indiana U. Press; Bonnie e Whitebread, The Ma­rijuana Conviction, U. of VA Press; Registos Congr. E.U.; ei al).