Uma História Diferente no Baque de Oposição à Negligência da Guarda! [bONG 138#]

Há quase três anos divulgando relatos de Negligência da Guarda o bONG recebeu uma história um pouco diferente. No relato abaixo nosso amigo leitor de Belo Horizonte conta sobre o dia que foi reprimido por fazer uso da erva proibida e ainda faz uma análise mas profunda desta guerra ideológica entre usuários e policiais:

 

"Vejo muitos usuários da cannabis se referindo aos policiais como "vermes". Entendo que a repressão e o abuso do poder exista, vivi e vivo há tempos, mas temos que nos lembrar que a culpa não é somente dos policiais. Isso é algo cultural, ensinado e passado de geração em geração nas forças policiais de todo o país. Isso envolve políticos, pessoas do alto escalão e um total descaso dos mesmos com as leis e a população em geral, não só conosco, os "maconheiros". Ainda que vejamos todos os dias muitos "vermes" que se comportam e vestem a carapuça, temos que abrir os olhos para não cairmos também no preconceito, da mesma forma como eles fazem conosco.

 

Outro dia, saindo da aula, estava andando pela avenida deserta às 22hrs e resolvi acender um baseado. Fumei metade do beck quando, saindo da estação do metro, vejo um par de pessoas fardadas. Eles estavam a uns dez metros de mim, soltei a fumaça porque vi que não conseguiria segurá-la por muito tempo, passei dois dedos na língua e apaguei a bomba. Abaixei a cabeça e passei por eles. Nada foi dito.

 

Alguns passos a mais e escutei "Ou... você mesmo! Vem cá, por favor". Já sabia a rotina a partir dali: levar safanão, empurrão, apanhar talvez. Quem sabe até ser preso por tráfico. Tudo é possível nessas horas. Fui até os policiais e disse: "Pois não", ao que ele me respondeu: "Tá aceso ainda?", eu: "O quê?", ele: "Tá aceso ainda isso aí?"... Respondi que não, dessa forma: "Não, não... Assim que eu te vi apaguei... Não tinha nenhuma intenção de te desrespeitar...".

 

Já estava preparado para o que poderia enfrentar, portanto, imaginem quão grande foi a minha surpresa ao conseguir terminar a frase sem apanhar e ao ouvir da boca de um Tira o "bom mesmo", e do outro: "Tudo bem, fica calmo, dá para ver que você não é nenhum criminoso, mas não fica usando droga, jovem. Isso acaba com a sua vida. Que isso não se repita." E isso foi tudo.

 

Já fui parado algumas várias vezes por policiais, tratado como um animal e um criminoso, nunca esperaria por isso nem com todo o poder de argumentação do mundo.

 

Não quero exaltar a polícia militar, nem defender o abuso de poder, mas acho que bem como os policiais e políticos tem que entender que por trás de um baseado há um ser humano e não um animal. Nós precisamos entender que por trás de uma farda está outro ser humano, diferente de nós, criado em condições diferentes, tentando ganhar a vida.

 

A maioria deles abusa de poder sim, mas não vamos odiar os policiais, ódio não leva ninguém a nada. Se queremos mudanças, temos que ser os exemplos que vão quebrar o tabu e iluminar toda essa ignorância. Vamos lutar com as armas que temos contra um sistema corrupto e preguiçoso. Combater o comportamento de quem abusa do poder e usa de violência, nos rebelar de maneira saudável e inteligente, mas ainda assim firme e constante, contra o preconceito e a ignorância. Quando uma coronhada te acerta, quem segura a arma não é só o PM, é uma ideologia. Uma ideologia do preconceito, da violência e do medo.

 

Muitos podem não entender meu ponto de vista. Acho que não expliquei direito e me falta o poder de oração. Em poucas palavras eu queria dizer: Ódio e preconceito não! De nenhum dos lados!"

 

Se você também já sofreu na mão da Guarda Negligente envie seu relato para redacao@hempacao.com