quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Palavras Alucinantes: Enteógenos, Psicodélicos e outras Realidades Semânticas – Parte II

[Portas da Percepção 144#]

por Fernando Beserra 

 
Na última semana começamos a falar um duelo lingüístico, ideológico e mesmo poético que envolve a nomenclatura das misteriosas plantas, fungos, etc., que denominamos aqui nesta coluna comumente de “Enteogenos” ou “Psicodélicos” e na psiquiatria tradicional nomeiam-se  como: “Alucinógenos”. Pois bem, vamos continuar nosso último post abrindo as “Portas da Introspecção”. 

Foi com esta visão em mente, da introspecção gerada por estas misteriosas substâncias, que o maior historiador mundial das drogas, Antonio Escohtado, sugeriu a terminologia: “substâncias visionárias”. Este termo está, em minha opinião, em pleno acordo com esta classe de psicoatividade.

 

Em seu “Livro das Drogas”, Escohotado sugere uma classificação para as substâncias psicoativas segundo suas psicoatividades. Ele classifica as SPA em três categorias. A primeira seriam as SPA que produzem uma atividade de aliviar a dor, o sofrimento e o desassossego. A estas SPA considerou que prometem um tipo de paz interior (Escohotado, 1994) Dentre as substâncias relacionadas podemos citar: ópio, morfina, codeína, heroína, metadona, buprenorfina, pentazocina, os tranqüilizantes maiores, os tranqüilizantes menores (como as benzodiazepinas), os soníferos, clorofórmio, éter, gás hilariante e fentanilas, além dos vinhos e licores.

 

A sua segunda categoria se refere as SPA que prometem – ou proporcionam – um tipo de energia abstrata “como um aumento de tensão entre circuitos elétricos” (Escohotado, 1994, p.39). Nas suas palavras (op.cit, p.39): “A segunda esfera se relaciona com esse alheamento que o poeta chama ‘não desejar os desejos’, entre as manifestações desta segunda esfera se encontram ‘preguiça’, “impotência” e ‘tédio’”. Nesta segunda categoria podemos incluir o café e a coca no plano dos estimulantes vegetais e no plano químico a cocaína, o crack, anfetaminas e a cafeína.

 

Finalmente, sua terceira categoria se refere as “substâncias visionárias”, ou que prometem – ou propiciam – um tipo de “excursão psíquica” (!). Sobre esta terceira esfera historiador das SPA nos diz:

 

A terceira esfera está relacionada à curiosidade intelectual e ao coração aventureiro, mal adaptados a uma visão imersa na rotina anunciada pelos outros, e cuja aspiração é abrir horizontes próprios. (op.cit, p.39).

 

Na terceira categoria podemos incluir as seguintes substâncias: MDMA (Metilenodioximetanfetamina) ou Ecstasy, Maconha e os derivados do Cânhamo, mescalina, LSD, Ergina, Cogumelos psilocíbicos e seus alcalóides, ayahuasca, iboga, kawa e fármacos recentes (sintéticos e semi-sintéticos), para citar apenas alguns.

A classificação de Escohotado me parece ainda extremamente pertinente, e ainda restam estudos classificatórios a serem feitos sobre a mesma. Mas, por outro lado, a palavra: “substâncias visionárias” embora utilizada, permanece sem tanta expressão internacional como enteógenos e psiquedélicos.

Em 1979 dois filólogos Carl A. P. Ruck e Danny Staples, o pioneiro no estudo dos enteógenos R. Gordon Wasson, além dos etnobotânicos Jonathan Ott e Jeremy Bigwood (Ott, 2004) sugerem o termo enteógeno. O neologismo enteógeno deriva de uma antiga palavra grega que significa “volver-se divino interiormente” e “que usaram para descrever estados de inspiração poética e profética e para descrever um estado enteogênico induzido por plantas sagradas”# (Ott, 2004, p.19). 

O termo enteógenos tem tido aceitação por muitos estudiosos da área. Exceção de um renomado pesquisador da área é a de Terence Mckenna que aborda o termo em seu livro “Alimento dos deuses”. Para Terence Mckenna a palavra enteógeno é uma palavra canhestra, cheia de bagagem teológica.

O termo enteógeno designa classe específica de substâncias psicoativas e “melhor designa drogas que provocam êxtase e têm sido utilizadas tradicionalmente como embriagantes xamanicos ou religiosos, assim como seus princípios ativos” (Ott, 2004) além de seus congêneres artificiais.

No Brasil, o psicólogo pioneiro na pesquisa dos enteógenos, Philippe de Bandeira Mello, autor do fantástico livro: “A Nova Aurora de uma Antiga Manhã: surpreendentes diferenças entre as Plantas Sagradas e as drogas – as propriedades misteriosas dos enteogenos” opta pelo termo Enteógeno, que tem sido, de modo geral, utilizado por autores que pretendem enfocar o uso xamanico ou religioso destas plantas e fungos.

Faltou apenas um termo consagrado, Enteodélico, mas, para não cansar o leitor, deixemos este para outrora!

Quinta que vem é aniversário deste que, todas as quintas (ou quase todas), está aqui com os senhores e senhoras para falar e trocar informações sobre os enteodélicos! Vou tentar fazer um vídeo de comemoração, afinal, o Portas da Percepção está vivo desde 7 de Setembro de 2010 e nem fizemos aniversário de 1 ano!

Abraços antiproibicionistas!

4 comentários: