quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Estados Artísticos Alternativos! [Portas da Percepção Ed. 150#]

por Fernando Beserra

 

Já falamos um pouco aqui sobre arte. Não apenas da arte da viagem pelos estados alternativos de consciência, sobre os diferentes modos de surfar sobre o caos, como diria Timothy Leary. Com parcimônia, temos procurado falar um pouco sobre as distintas plantas e fungos que catalisam experiências, com justeza, chamadas de sagradas. Dificilmente alguém em sã consciência, isto é, em sua consciência ordinária e cotidiana falará sem receios sobre telepatia, sobre entrar e ver seu próprio corpo por dentro, sobre atravessar o cosmos e encontrar outras formas de vida.

 

Terence Mckenna, Robert Gordon Wasson e muitos, muitos outros já falaram sobre a importância dos enteógenos para a evolução da consciência, para o acesso de distintos níveis de realidade que podem contribuir para a auto-realização, o desenvolvimento da linguagem, ou mesmo o renascimento arcaico, um contato mais equilibrado com a natureza e com o nosso grande sentido interior, telos da alma. Estes estados ocorrem, portanto, há milênios e serão encontrados mesmo em dimensões tão particulares do espírito criativo humano como as artes.

 

Encontramos pinturas em cavernas francesas como Altamira, Lascaux e Chauver que remontam épocas tão antigas como 28.000 aC ou a belíssima escultura encontrada em Hohlenstein-Stadel, Alemanha, de aproximadamente 31.000 a.C. Falando sobre a arte dos Andes peruanos de Chavin de Huantar de 900 a.C (El Lanzón), Julian Bell comenta: “Corredores estreitos restringiam drasticamente os movimentos e a atenção dos frequentadores dos templos, que provavelmente viajavam no suco de cacto. Com o triplo de sua altura, o monólito talvez catalisasse suas aventuras espirituais, representando a um só tempo a ascensão vertical ao reino do sobrenatural e o poder assombroso que o governava”.

 

Não se trata do único caso, do primeiro ou do último. É evidente o uso de transes, jejuns e enteógenos para o contato com os deuses e energias, aproximando-se do transcendente mesmo que através da própria natureza, além do uso de contextos específicos como locais escuros e de entradas tortuosas, que levavam o artista ou os religiosos a experiências do sagrado.

 

    Se a arte “arcaica” não era realista, mas tantas vezes até abstrata, então o iluminismo certamente também não “iluminou” a arte de qualquer passado irracional em direção a uma racionalidade forjada. A arte, ao contrário, reforçou seu contraponto, sua subversão as normas impostas e que alguns acreditam que devam ser seguidas incondicionalmente. Foi assim que artistas renomados encontraram a psicanálise, os sonhos, os psiquedélicos, e o contato com dimensões viscerais da psique para re-imaginar o cinzento panorama de representações meramente técnicas.

 

Para falarmos hoje de apenas mais um artista, podemos nos lembrar de Isaac Abrams. No mesmo ano que acontecia a exposição The Responsive Eye (focada na arte óptica) o jovem pintor Isaac Abrams fundou a “Coda Gallery” que destacou pinturas, esculturas e shows de luzes multimídia sobre a forma de arte psicodélica. Abrams também foi um dos primeiros artistas a exibir pinturas que foram influenciadas por experiências psiquedélicas com LSD (Rubin, Morgan et Pinchbeck, s/d). Abrams chegou a afirmar que os psiquedélicos abriram para ele portas para outros universos, tão tangíveis como seu próprio. Como exemplo diz:

 

Tive experiências dentro do próprio corpo, flutuei através da minha própria corrente sanguínea, sistema nervoso e identidades de gênero, e experiências fora do corpo, voando, formas de animal e acima de tudo consciências sem forma (formlessness) levando a uma identificação com a singularidade da criação e total inter-conectividade com a natureza.

 

Retomando o odiado e amado Dr. Leary, balançamos discretamente a cabeça e dizemos o sonoro: Uau!

22 comentários:

  1. As pinturas dele são espetaculares...
    A criatividade transborda das pessoas espiritualmente elevadas.

    Um dia todos nós iremos sentir a união com o Uno.("levando a uma identificação com a singularidade da criação e total inter-conectividade com a natureza.").

    Até lá cultivemos sempre o Amor, a Paz...e todos os sentimentos bons. Para cada vez mais chegar perto de Deus

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  2. Acho que é por ai. E as vezes este Deus está simplesmente dentro de nós como dizia Leon Tolstói, que alguns chamam de anarquista cristão, ou na possibilidade das relações com a alma do mundo..

    Com quais deuses nos encontramos sempre é uma questão a ser colocada, rs. Do ponto de vista helenico eu diria que os estados alternativos são sempre herméticos ou nos colocam em conexão com Hermes, com o pai das conexões entre níveis (hermeneutica).

    Forte abraço

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  3. A enteogenia abre as portas para o conhecimento do sagrado que existe dentro dos "EUS" por ai... chegou a nova era!

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  4. Gosto muito de estudar as civilizações antigas, mas confesso que nunca me aprofundei muito na filosofia grega(que por sinal é magnífica). Já li, poucas coisas, sobre Socrates, Platão, Aristoteles e o próprio Hermes...

    Eu procuro sempre compreender a ESSÊNCIA das mensagens das religiões, doutrinas e filosofias como o Hinduismo, Budismo, Cristianismo, Cabala, Yoga, Espiritismo, Astrologia e varias outras.
    Que poderiamos chamar de estados alternativos de consciência(ou não?), cada uma com seus ensinamentos, porem todas levando ao mesmo lugar(de volta com o Uno). Assim como a Enteogenia, o Xamanismo...

    Mas vejo que para nós termos uma consciência ainda maior...ou melhor...para nós conseguirmos realmente SENTIR a Unificação, nós precisamos nos preparar...e me parece que o segredo está no Amor. Não no amor ordinário que presenciamos na maior parte do tempo, mas no Amor por tudo e por todos, pois sabemos que somos todos Um.

    Não adianta nós dizermos que somo adeptos de tal caminho, se nós realmente não praticarmos a essência dos ensinamentos.

    Nunca usei enteogenos(embora tenha muita vontade), mas vejo em leituras e relatos, que eles nos levam a uma melhor percepção do que estou querendo dizer. Me parece que é algo que nós SENTIMOS e que é dificil de se traduzir em palavras.
    As palavras nos passam apenas um entendimento, já o sentimento nos passa a emoção de vivenciar realmente.
    Espero um dia(e sei que vai chegar)conseguir sentir isto.
    Meus primeiros passos já dei, que foi perceber a "escuridão ordinária" e conseguir depertar. Agora estou no caminho do Amor que tanto nos foi ensinado por grandes mestres como Jesus, Buda, Zaratrusta....

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  5. Legal Samuel,

    Minhas impressões são as seguintes:

    Existem diferentes tradições e que vão responder a diferentes tipos de realidade, túneis de realidade, assim como de fundamentos filosóficos, políticos e/ou de tipologia psicológica.

    Uma dessas perspectivas é entender que por trás das formas, da representação, da aparência, do véu de Maya, existe uma única realidade transcendente. Ou seja, por trás das múltiplas formas de Deus, das religiões, dos ISMOS políticos e suas utopias (não-lugares), existe um único fundamento. Na arte, o abstracionismo procurou se aproximar deste epicentro ao dissolver a forma.

    Talvez, se falarmos de uma realidade maior do que a realidade humana, maior do que a realidade limitada pela linguagem e, enfim, por nosso organismo, entendendo ai as traduções e mensagens bioquímicas do Sistema Nervoso Central, Periférico, Autonomo.. esta realidade seja simplesmente incognoscível, isto é, impossível de apreender pela tradução humana.

    Credo quia absurdum.

    Creio porque é absurdo. Se a racionalidade humana não é capaz de reconhecer o que a transcende, o numeno de Immanuel Kant, então esta experiência deveria se fundamentar pela negatividade. O que não é. Quando falo de Deus, não falo de Deus. Procuramos nos aproximar, circuambular esta imagem humana. Já a experiência pessoal é muito mais imediata, a que não se traduz pela linguagem, e foi justamente isso que a Igreja e as autoridade ctônicas procuraram fazer: expulsar a ek-stase (sair, sair de si), porque ela pode levar a perspectivas muitos particulares e que romperiam com o dogma. Especialmente um dogma construído com intenções de manipulação, poder-sobre e afastado de uma verdadeira religiosidade.

    Ao falar de um deus interior também rompe-se parcialmente com a necessidade de autoridades terrestres para o contato com o divino. É uma postura eminentemente libertária.

    Outra possibilidade, mais grega, é entender que as próprias formas carregam em seu bojo, em seu próprio seio, a transcendência. A alma do mundo se manifesta através das imagens e nosso papel é muito mais encontrar nestas o contato com os deuses, abandonando a inconsciência da diversidade e dos estilos de retórica que compõe a complexidade do ser na alma.

    Precisamos sim ter este “treinamento”, entrar em contato com nossa sombra, com nossa parte feminina e masculina, e estabelecer contato com o Self. Abandonando esta perspectiva de uma única possibilidade de verdade e a inconsciência infantil, ancorado nestes múltiplos mundos, para que possamos mesmo ser crianças novamente, mas com uma consciência acurada e distinta, podemos entrar nesta jornada de modo diferenciado. Digo e repito que não é o número de vezes que usamos enteógenos ou seus diferentes tipos que moldará e dirá o quando caminhamos em nosso processo de individuação. É antes a magnitude de nossa abertura para o processo, nosso cuidado e atenção cuidadosa (religere) aos fenômenos da nossa alma e aqueles que ultrapassam-na e devemos necessariamente chamar de transcendentes, transpessoais ou alteros.

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  6. hehehhe...
    Fernando é muito bacana conversar com você.

    Concordo plenamente com o que você disse. Embora eu tenha lido e relido mais ou menos umas 10 vezes para conseguir compreender o que tu queria passar, e mesmo assim acho que ainda me faltou algo. hehehhehe

    Acho que nossa conversa mesmo, reflete o que agente ta querendo explicar e entender(mesmo que agente não precise explicar nem entender nada, apenas sentir...se deixar sentir).

    Nós sabemos que Deus está em cada um de nós.
    E não precisamos de nenhuma filosofia, religiao ou doutrina para perceber e sentir isso.
    Acredito que cada um tem seu caminho, e aprenderá isto das mais variadas formas...
    Porem acho que algumas, ou a maioria, das pessoas precisam de um empurrãozinho daqui ou dali para conseguir perceber isto...

    Claro que não duvido que Deus não tenha capacidade de dar esse empurrãozinho...mas será que não foi Ele próprio que criou essas tantas formas diferentes de chegar até Ele?

    Claro que o caminho não vai fazer o trabalho para nós, mas pode nos ajudar.
    Para agente atingir o extase dependemos apenas de nós(junto de Deus e nosso guia). O caminho a ser seguido é apenas o empurrãozinho.

    Tenho mais umas perguntas...

    Voce tem idéia de como se da a abertura para o processo do transcendente? Onde devemos focar nossa atenção para sentir os fenomenos da alma?

    Lendo e estudando me parece que a resposta para tudo está, não em obter as respostas, mas apenas deixar Deus se manifestar em nós, sem nenhum tipo de relutância nossa. Porem isso é muito complicado, ainda mais nos dias de hoje, onde impera o ego.
    Por isso acho que seguir os ensinamentos de seres que já atingiram este estado de consciência é importante.

    Um grande Abraço.

    Obs: Não sei se conseguirá entender o que quero te passar.
    As vezes não consigo expressar em palavras o que penso.

    Ah e outra coisa...nunca tinha pensado no abstracionismo como uma forma de aproximação com o tudo.
    Realmente é muito legal sua matéria. Nos mostra como Deus está em tudo, basta apenas nos deixarmos enxergar.
    Parabéns

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  7. Olá companheiros, posso me intrometer?

    Eu não sou dado ao teísmo, nem seguidor ou admirador profundo de religiões. É verdade que existem ideias muito importantes nas tradições religiosas, mas por outro lado, é preciso levar em conta que nem tudo o que as religiões e sacerdotes afirmam são pensamentos e atitudes saudáveis.

    Isso é um característica primordial dos psicodélicos: eles não impõem nenhuma doutrina, é tudo você e seus pensamentos. Como o Fernando falou, é algo pessoal, não são mensagens que vem de fora, isso acontece dentro de você, com você. E é por isso que é chamado de experiência, é algo sentido, não comunicado ou ensinado.

    O que você falou, Fernando, sobre não importar quantos psicodélicos, mas sim o quanto absorvemos das experiências, é bem verdade. Alguns testes com psicoterapia mostram que mudanças radicais na vida das pessoas acontecem com poucas experiências, num ambiente mental e físico apropriado. Isso demonstra o que você disse.

    Samuel, penso que o que o Fernando quis dizer com fenômenos da alma é justamente a modificação na maneira de pensar e sentir as coisas que os psicodélicos trazem. É o tipo de coisa que só será sentido, útil e benéfico se você quiser que seja. Existe uma diferença bastante fundamental entre uma pessoa psicodélica que utiliza uma droga para exploração mental, ou contato com o divino, e uma pessoa que utiliza a mesma droga para ir para uma festa. As motivações e anseios são diferentes.

    Psicodélico, psiké e delos, aquilo que manifesta a mente. "Substâncias-espelho".

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  8. Olá Edgar...fique a vontade...hehehe
    Quanto mais opiniões tivermos melhor.

    Também concordo com o que você falou.
    Inclusive sobre as religiões e sacerdotes.

    Tem religiões, como o cristianismo, que já estão saturadas de tanta besteira que criaram.
    Mas se agente for estudar a ESSÊNCIA desta religião, as idéias na qual fundamentaram-a, irão perceber que existem muitas coisas que podemos levar como ensinametos muito valiosos.

    Claro que aí vai depender também do que você falou.
    Há diferenças em pessoas que estudam(assim como os que usam os psicodélicos). Umas estudam apenas por medo, tradição familiar...e outras incoerências.
    Mas uma pessoa que anseia pelo contato com o divino irá ver os mesmo estudos de uma forma diferente. Irá ver ali uma forma de mudar os seus pensamentos e idéias antigas para formarem novas idéias sobre a vida (cada vez mais proximo, circumbulando Deus), assim como acontece com os enteogenos, correto?.

    Por não ter usado enteogenos antes, talvez eu esteja falando besteira. Mas tenho certeza que uma pessoa que busca esse encontro com o divino poderá encontrar em qualquer caminho. Seja atravez dos enteogenos, ou religiões, etc...ou até mesmo sozinho, sem ter contato com nada, apenas sua própria mente, coração( pois Deus também está lá).

    Vou dar um exemplo.

    Existem muitas pessoas que acreditam e sabem que existe vida após a morte.
    Mas como isso vai interferir na vida dela?

    - Ela pode simplesmente achar que nós morremos e reencarnamo, apenas para gozar de todo livre arbitrio, e todo amor de Deus aqui na terra.

    - Ou ela pode ver isso como uma forma de evolução da da alma, evolução da conciência...assim melhorando cada vez mais a sí, para um dia poder não precisar mais reencarnar(se aproximando cada vez mais do divino).

    Agora comparando com quem usa psicodélicos.

    A primira opção é equivalente com aquela pessoa que usa apenas para ir para festa.
    A segunda é aquela que busca a exploração mental.

    Concerteza um pessoa não precisa saber que exista vida após a morte, para não precisar mais reencarnar...mas aí vem aquela história do caminho. Cada um tem o seu. Vai depender só de você mesmo usa-lo da melhor maneira.

    Claro que os ensinametos são bem diferentes, até porque com os enteogenos é só você.
    Por isso tenho bastante vontade dê usa-los.
    Quero ter um encontro mais "profundo" comigo mesmo, acho que poderia ser muito proveitoso para mim.
    Inclusive tem uma comunidade aqui perto de minha cidade onde eles fazem uso da Ayahuasca e já entrei em contato com eles.
    Já li bastante coisas sobre esta bebida, e vejo que ela pode me dar aquele "empurrãozinho".Entende?
    Me ajudando talvez a entender o que vocês estão qurendo me dizer.
    hehhehehe

    Um forte abraço.
    Muita paz !!! ^^

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  9. Fico feliz em ver um debate rico assim!

    Samuel, vou responder suas perguntas dentro do que me é possível responder:

    Pergunta: Voce tem idéia de como se da a abertura para o processo do transcendente? Onde devemos focar nossa atenção para sentir os fenomenos da alma?

    Acho que você já colocou com propriedade que existem muitos caminhos. O caminho dos enteógenos tampouco é o único, então claro, cabe nos perguntarmos sobre a especificidade dos caminhos. Nossa atenção poderá estar focada em muitos pontos e cada um tenderá a um caminho diferente. Em primeiro lugar, no caso dos enteógenos, existe menor controle do Eu em relação as experiências, por isso a importância de preparo do setting (cenário – ambientação) e do set (momento do sujeito, contexto subjetivo – não usar enquanto estiver deprimido, a não ser que tenha este fim já e esteja ao lado de alguém com experiência; cuidado com alimentação, interação medicamentosa, etc). Como falei, não existe regra. Quem se abre para a experiência e permite que ela flua ao invés de ficar fugindo dela terá mais facilidade, claro que com as cautelas para não fazer nenhuma sandice. Isso é um conselho repetido por inúmeros mestres. Por experiência pessoal posso dizer que quando me fixei num ponto, tive medo ou dificuldade de mudança, foi quando a peia ou bad trip foi mais intensa, o importante é ter a paciência para saber que aquele inferno passará e é preciso olhar, mesmo que dificilmente no momento, com bons olhos tanto para os momentos de êxtase quanto para as aprendizagens pelas dificuldades. Daí que não existe um lugar certo. Por vezes opto por um estilo de meditação budista que já pratico, isso é, procurar manter a mente livre e vazia ou, quando algo aparece, deixar que venha e se vá.


    Pergunta: Lendo e estudando me parece que a resposta para tudo está, não em obter as respostas, mas apenas deixar Deus se manifestar em nós, sem nenhum tipo de relutância nossa. Porem isso é muito complicado, ainda mais nos dias de hoje, onde impera o ego.
    Por isso acho que seguir os ensinamentos de seres que já atingiram este estado de consciência é importante.

    É dificílimo. Ainda me sinto um mero iniciado nestes segredos. Não tenho respostas, mas procuro sempre dar muita atenção as coisas “ouvidas” ou “vistas”. Procuro entender estas mensagens, mas sem ignorar também o pensamento do ego. Acho perigoso quando apenas aceitamos incondicionalmente as mensagens do inconsciente ou da natureza. Acho sábio aquela visão Zen que podemos observar nos jardins japoneses, naquele espaço hibrido onde não sabemos o que é cultura e o que é natureza, tamanho o cuidado no preparo dos belos jardins. São retoques, um trabalho sobre, mas um trabalho que não ofende a natureza. Em certo sentido, esta é uma visão mais própria para a idéia de sublimação (sublimatio) do que o que foi estabelecido por Freud e a sua psicanálise.

    Entendi sim o que você quis dizer. Concordo com muita coisa.

    Grande abraço

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  10. Sinta-se a vontade Edgar!

    Concordo com você sobre os riscos das religiões e sacerdotes. Por isso a importância de separarmos o joio do trigo. Não que uma religião seja boa e outra má, todas são necessidades da alma de colocar em imagens e palavras as energias e potencialidades arquetípicas. Os arquétipos, entretanto, não são imagens inatas ou essenciais, mas formas vazias de conteúdo, daí que todo arquétipo é flexionado de acordo com a realidade sócio-cultural vigente. Daí temos as diferentes formas de organização das imagens religiosas, experiências místicas e posteriormente religiões instituídas. As religiões instituídas, muitas vezes, são manipuladas com fins de congregar poder. Quem não se lembrará do que Costantino e depois o imperador Justiniano fizeram como o rico cristianismo primitivo? Os iconoclastas foram os primeiros a irem contra e destruírem as imagens, mas toda a Igreja foi contra a experiência pessoal de Deus, MAS, foi graças a esta experiência pessoal que podemos ter riquezas como o Apocalipse da Bíblia e vários estados de são Paulo, apenas para dar exemplos.

    Felizmente alguns papas da contracultura como Timothy Leary seguiram a máxima: “Pense por você mesmo, questione a autoridade”.

    Sobre a questão de ser de fora e de dentro acho bem complicada, rs. Mesmo que sejamos só nós conosco mesmo, o fato é que vamos experienciar realidades que estão muito além do nosso humilde Eu. Parece mesmo que algumas realidades podemos chamar de transpessoais, além do pessoal, mas acredito que deva-se tomar cuidado também para não se perder de vista o olhar interno.

    Certamente existe uma grande modificação entre uma pessoa que usa psiquedélicos para ir numa festa e outra com propósitos espirituais num contexto apropriado. Ambas, porém, poderão ter experiências culminantes (peek experiences – como a chamava o psicólogo Abraham Maslow).

    O fato é que a especificidade dos enteógenos enquanto catalizadores de um caminho é que a experiência com elas é realmente muito forte, por vezes impossível de ser compreendida e absorvida pelo pensamento ordinário de vigília. A intensidade com doses altas pode ser realmente inacreditável e por isso exige preparação e cuidado. Os enteógenos realmente abrem portas as quais são dificilmente abertas por outras práticas – não que seja impossível, é possível.

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  11. Samuel, concordo com o que disse, existem vários caminhos, cabe a cada um perceber qual é o melhor para si mesmo. Somos todos seres individuais, temos mentes, origens e corpos diferentes.

    Isso faz me lembrar de Crowley, "Faze o que tu queres, há de ser o todo da lei".

    O que eu critico é exatamente quando a individualidade de cada ser humano é posta de lado. Parte disso acontece quando se fixa um dogma, e a maioria das religiões modernas são dogmáticas.

    Psicodélicos, por outro lado, fazem exatamente o oposto. Sugerem novas ideias, facilitam insights, ajudam a questionar regras, convenções e cultura, toda essa frente de revolução mental que, do ponto de vista de grandes tradições religiosas atuais, é pura abominação.

    Como tanto o Fernando como o Samuel notaram muito bem, psicodélicos não são para todos. Não são todos que estão preparados para as mudanças que elas causam na mente, e em tão pouco tempo. É uma quebra de padrões de pensamentos, e isso não é confortável para todas as pessoas.

    Infelizmente, quanto a ayahuasca, não posso opinar, nunca utilizei. Se quiser, você pode procurar pelo documentário Shamans of the Amazon, ele aborda um pouco o xamanismo da região da Amazônia e fala sobre a ayahuasca, mas é em inglês.

    Fernando, como você disse, cada um se focará diferente, mesmo utilizando um psicodélico. É bom levar em conta que psicoativos tem sido utilizados nos mais diversos contextos, de rituais de passagem a rituais para achar uma doença. Ou você pode não preparar qualquer ritual, e meditar. Eu pessoalmente não faço nada nesse tipo. Tomo o psicodélico, penso, escrevo pontos importantes do pensamento em um quadro branco, escuto música, escrevo algo, às vezes desenho...

    Sobre a bad trip, é importante não exagerar na dose, e como o Fernando disse, ter atenção com o set and setting. Esteja confortável com o lugar e as companhias, isso é muito importante, e confie no psicodélico.

    Bad trip, hora de manter a calma, entender e aceitar o fato de que os sentimentos ruins vão passar, e ocupar a mente com outra coisa.

    Um dos pensamentos que me ajuda a voltar a terra firme é pensar sobre sexo, sobre corpos que me atraem. Qual a sua opinião, Fernando?

    Concordo com o Fernando na questão de que é importante levar em conta seu lado racional.

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  12. Realmente, os arquétipos que habitam nossa mente são voláteis, não só os deuses do passado se tornam os demônios de hoje, como os deuses de hoje se transformam nos demônios do amanhã.

    Sim, a experiência pessoal é o mais importante! Sou incapaz de aceitar um deus do qual só ouço falar, mas nunca entro em contato direto.

    É claro que existe a ideia de que, Deus sendo transcendente, está em todos os lugares e em todos os estados de mente, e portanto sempre estamos em contato direto com ele, mas em que tipo de deus resulta esse tipo de pensamento? A meu ver, um deus sem importância, cuja existência ou inexistência não faz diferença. É algo que é banal desde o princípio.

    Realmente essa questão da origem da informação é uma questão complicada. Vivemos em uma sociedade em que o materialismo é importante, então a informação é gerada pelo cérebro. Entretanto, se você não consegue demonstrar essa afirmação, as ideias de Aldous Huxley de que a consciência vem de fora são válidas tanto quanto.
    Fato é que não conhecemos completamente a consciência, não sabemos tudo sobre nossos cérebros e como eles funcionam, então essas suposições são, até certo ponto, infundadas.

    Eu tive algumas poucas experiências com sonhos lúcidos, no sentido de conversar com uma "pessoa", e as ideias apresentadas parecerem vir de fora do que chamamos de Eu.

    Se esses seres estão num mundo extrafísico, se estão navegando em nossas mentes, ou se são apenas uma criação da mente é apenas suposição. Eu penso que realmente não temos como saber.

    E no fim, seria mesmo válido falar em termos de "dentro da mente" ou "fora da mente"? Todo o mundo, tudo o que conhecemos, existe dentro da mente. Tudo o que consideramos de "fora". Eu sou uma pessoa (a menos que você tenha pensamentos solipsistas), mas como você vê é apenas um modelo criado pela sua mente. Na verdade, sou bem diferente do que pensa.

    De fato, é ótimo poder discutir. Essas coisas são importantes, não é só prazeroso e útil trocar ideias, mas cria laços entre a comunidade psicodélica e promove, além de coisas para pensar nas trips, mudanças sociais. Ou promove a opinião pública de que somos todos loucos. HAHAHA

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  13. Vou tentar mostrar a minha idéia do que seria Deus, que está em tudo...
    Concerteza vou deixar muitas lacunas...mas vejam o que vocês acham, e o que poderia botar minha teoria toda por água abaixo, ou o que poderia ser acrecentado.
    hhehehhehe

    Primeiro...
    Qual é a maior razão de nós vivermos?
    O que todo ser humano busca na vida?

    A minha resposta é a FELICIDADE.
    Todo mundo está em busca da felicidade.
    A todo momento, a cada segundo, nós estamos querendo fazer algo para nos sentirmos bem.
    Não acham?

    Eu posso viver minha vida inteira em um quarto 3x2, sem nada para fazer, mas se eu, conseguir me sentir a pessoa mais feliz do mundo, por mim está tudo bem.
    Melhor do que ser livre, poder fazer um monte de coisas e não conseguir ser feliz, concordam?

    Segundo...
    O que forma o ego?
    Seria nossos pensamentos gerando intenções e circunstâncias?
    Mas sem pensamento não há ego.
    Porem o pensamento também pode gerar alturismo.
    Mas sem pensamento também não há alturismo.
    Então será que o nosso livre arbitrio seria o pensamento, o nosso desejo?


    Agora vejamos....
    Todas as pessoas tem personalidades, e essas personalidades é o que nos diferencia das outras pessoas. Nós somos o que nós criamos em nossa mente e as circunstâncias que a vida impos para nós(nascer em tal familia, país. Seguir tais tradições da família. A educação que tivemos desde crianças, etc).
    As pessoas são diferentes por causa de suas personalidades e por circunstâncias da vida.

    Mas o que nós podemos achar em comum para todos os seres humanos? Alias, não só para os seres humanos, mas para tudo que existe?

    Acredito que o que nós temos em comum, chegando ao maximo do absoluto que nós podemos, por enquanto, entender é a energia.
    A energia como Einsten falou é matéria ao quadrado (E = mc²).

    E = Energia
    m = massa
    c = velocidade da luz no vacuo

    Logo toda matéria é energia, só que em uma vibração mais densa.

    E onde nós encontramos a energia em nós mesmo em uma forma não material?
    Acredito eu, que seja nossos sentimentos.
    Tudo o que nós sentimos, é o que agente atrai para nós mesmos na matéria, não acham? Semelhante atrai semelhante.
    Tudo o que você e sente irá voltar para você. É a lei do Carma, do plantar para colher, da ação e reação.

    Os nosso sentimentos são a 'ação' e o que acontece na matéria é a 'reação'. Por ser uma forma mais densa demora mais para se manifestar.

    Tudo acontece antes na energia para depois acontecer na matéria.

    Por exemplo:
    Nós ficamos irritados(o sentimento) com alguem, e isso nos leva a bater(a reação) nesse alguem.
    A energia sempre vem antes da manifestação da matéria.
    Claro que depois a irritação vai continuar...mas isso irá gerar outras consequências.

    Partindo desse principio, temos então, que cuidar sempre de nossos sentimentos, não é?

    Mas e a energia vem de onde ??
    Isso acho que é uma parte ainda inacessivel para nós enquanto seres que agem com o ego, a personalidade. Sempre se identificando com algo.

    Agora agente já sabe que os nossos sentimentos são energia, então vamos tentar ter sempre sentimentos bons, para enfim conseguir se FELIZ constantemente.

    E agora como que nós conseguimos atrair sentimentos bons?
    Deixando ego de lado(porem eu vi em algum lugar que o ego nao necessita ser totalmente destruido, mas sim vigiado. Se usarmos da maneira correta, pode ser produtivo).

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  14. (continuação...)


    Como deixar de lado o ego?
    Atravez dos pensamentos...refletindo, vigiando-o. Dedicando os pensamentos ao alturismo.

    Porque o alturismo?
    Por que o alturismo une.
    E acho que chegando ao um nivel elevado de alturismo nós talvez entendemos o que forma a energia...
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    Mas isso iria contra a idéia de deixar todo o pensamento de lado e deixar fluir apenas a energia atravez de nós ?
    Já vi e li pessoas falando que nós precisamos é não nos identificar com nossos pensamentos.
    Deixar os pensamentos chegar em nós e da mesma forma deixa-los ir...sem que eles nos cause algum tipo de senimento.
    Dessa forma a felicidade se manifestaria em nós...

    Não sei se isso vai contra toda minha teoria, ou se de certa forma corrobora com ela.
    Só que dai o pensamento não seria o livre arbitrio já que ele viria de fora...
    E agora?
    Entrei em parafuso...hehhehehehe

    ----------------------------------------------

    Bom acho que posso ter falado bastante besteira...ou deixei lacunas muito grandes que vão acabar por não validar minhas idéias

    Mas acredito que é algo que pode ser produtivo de alguma forma.

    E tudo isso mostra que estou me identificando com o meu ego e não estou seguindo o que eu mesmo disse...kkkkkkkkkkkk

    É meio complicado mas é bacana.
    E é procurando que nós achamos...ou será que não ??
    hahahah

    Ahh...e Deus seria a energia...ou o que forma a energia...e assim por diante.

    E valeu pela dica do documentario Edgar, vou ver se acho com lgendas.

    Abraço pra vocês.
    E desculpe toda minha enrrolação.

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  15. Farei os comentários que acho importantes.

    Sim, é verdade que o maior anseio do ser humano é a felicidade, mas é algo interno, não universal.
    Cada indivíduo, por ser diferente, tem noções diferentes do que lhe faz feliz.
    De certa forma, nossas mentes são limitadas. Não somos oniscientes. E por serem limitadas, conhecemos algumas ideias, outras não, cultivamos umas, outras rejeitamos. É a nossa programação mental. Então, de qualquer maneira, estamos num cubículo de 3x2. Novamente, não somos oniscientes.
    Eu penso que o que os psicodélicos fazem em pessoas que anseiam por isso, é mostrar que o cubículo pode mudar de tamanho, mudar de forma, é possível pintar suas paredes, colar alguns posters, mas sempre será um cubículo.
    Cabe a você mudar seu cubículo conforme a maneira que te deixa mais confortável. Pintando as paredes do cubículo, ou seja, mudando seu comportamento mental, você muda suas atitudes, e consequentemente, muda sua vida.

    Ego é um termo meio estranho a mim. É complicado determinar o que é isso que chamo de Eu, mas eu assumiria como Eu minha realidade pessoal, minha cosmovisão.

    Livre arbítrio é outra questão complicada. Eu penso que, se somos livres afinal, temos uma liberdade mais limitada do que costumamos pensar.
    É possível dizer que todos fazem suas escolhas, mas as fazem baseadas no que querem, e gostam. E o que você quer, e o que você gosta, você não escolhe.
    Os maiores exemplos disso são as pessoas que não são heterossexuais, porque estão sujeitos a todo o tipo de preconceito e humilhação, mas mesmo assim, continuam com sua atividade sexual de desejo porque seriam infelizes se não o fizessem. Se pudessem mudar isso, com certeza as coisas seriam muito mais fáceis em suas vidas.
    De certa forma, somos máquinas de realizar vontades pré-determinados.

    Não sou muito conhecedor de Física, mas se não me engano o que Einstein quis dizer não é que matéria é energia mais densa, mas que as duas são manifestações do mesmo princípio, representado pela sua famosa equação.

    Essas questões que você citou, sobre a lei do carma, e o que seria a "lei da atração", fazem sentido pra mim até certo ponto.
    A lei do carma, como diríamos, "original", afirma que depois que você reencarna, você receberá as punições pelos crimes de suas vidas passadas. Não sabemos o que há depois da morte, então é uma afirmação que escapa a nossa capacidade.
    A lei da atração seria exatamente o resultado de escolher como vai pintar as paredes do seu cubículo. Dialogar com uma pessoa é compartilhar pinturas. Se gostamos das pinturas, nos apegamos a essa pessoa.
    Agora, só pensar que algo vai acontecer, e manter isso em mente, não faz acontecer. Crer não é suficiente, é preciso ação física, mudança de atitude.

    Se por um lado, superioridade moral exige que você haja diferente daquele te fere, por outro raiva é um sentimento instintivo do ser humano, e tentar arrancar isso de nós mesmos seria negar nossa natureza.

    Se eu fosse tentar pensar em termos de Deus, eu diria que Deus é aquilo que causa a mudança e a vida do mundo em que vivemos, a própria realidade se manifestando. Isso é um tanto quanto taoísta.

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  16. Aloha Samuel!

    Vou tentar dar algumas visões sobre alguns assuntos tratados. Como são muitos, acaba ficando difícil estabelecermos um foco.

    A razão da vida de todos acho de difícil determinação, por vezes mesmo uma pretensão muito grande. A psicanálise se aproxima da sua opinião sobre isso, mas com a idéia de organização do sistema psíquico. Para Sigmund Freud, em uma de suas tópicas, o sistema psíquico seria governado pelo jogo prazer-desprazer (lust-unlust) no que se refere a libido, então o ser humano sempre procuraria o prazer e a fuga do desprazer. O próprio marco do início da civilização estaria relacionado ao adiamento do prazer por outra forma de canalização da libido. A regulação da energia psíquica entendida por Carl Gustav Jung era muito relacionada a entropia da termodinâmica, teoria que foi muito cara a vários psicanalistas, embora a própria entropia nunca fosse alcançada pelo sistema psíquico, já que este é um sistema relativamente aberto (ou apenas relativamente fechado), e por isso não teria sua morte anunciada pela plena regulação de energia.

    Para o psicólogo humanista Abraham Maslow, que estudou profundamente a motivação, a felicidade parece estar relacionada um nível hierárquico de necessidades. Para que pudéssemos passar para um nível superior de necessidades precisaríamos sempre ter necessidades mais básicas atendidas, então, para alcançar um busca de ascensão no trabalho, respeito social, segurança e até um sentido de vida, precisaríamos ter satisfeitas nossas necessidades orgânicas básicas, entre elas nossa própria alimentação. Por outro lado, o próprio Maslow reconhece, e ai estou de acordo com ele, que é possível superar esta organização piramidal a partir do que ele chamou de meta-motivações. Como Gandhi, p.ex, poderia ir contra a própria pulsão de vida, tão enraizada em instintos de sobrevivência, e fazer longos jejuns? Como alguém consegue, em nome de um ideal, superar as motivações básicas e deixá-las de lado de modo tão imperioso? Segundo Maslow, alguém que tivesse ultrapassado os níveis desta pirâmide das necessidades poderia ascender a um nível outro de motivação. Penso que o buraco seja mais embaixo, e estejamos muito mais flutuantes em nossas necessidades e motivações extrínsecas ou intrínsecas.

    Como segundo ponto, você pergunta, o que forma o Ego. Para discutir ego ou personalidade precisamos nos apoiar em uma visão de ego e de personalidade.

    Entendo ego com a visão de Jung dada em seus seminários de Tavistock: Segundo ele, o ego é um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória. Todos tem uma idéia de já terem existido, isto é, da vida em épocas passadas, todos acumulam uma série de recordações. Esses dois fatores seriam os principais componentes do ego. Entendendo o ego como um complexo, Jung considera que ele tem uma forte força de atração em relação aos conteúdos do inconsciente, por um lado, e do mundo exterior, por outro, e como um imã os atrai e, que torna-se conscientes ao seu contato.

    Existimos, é claro, além do Ego e nossa personalidade é formada por um miríade de fatores, inclusive não-ambientais e não-condicionados, ou seja, inatos e singulares.

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  17. Sobre a questão da energia, poderíamos ir além das teses de Einstein e foi exatamente isso que a física quântica fez. Existe um princípio que ignora a máxima de Einstein, para quem não seria possível ultrapassar os limites de velocidade da luz. Porém, de acordo com uma das alternativas interpretativas do Teorema de Bell, as partículas teriam contato instantâneo com qualquer outra partícula com qual teve contato anterior no cosmos. Einstein procurou ridicularizar a teoria quântica formulando o chamado paradoxo Einstein-Rosen-Podolsky, porém, com o tempo observou-se que embora a física quântica parecesse absurda, mesmo as teorias da relatividade, ele era extremamente eficaz e hoje aceito, embora com mil teorias divergentes. Além disso, a partir dos estudos da física quântica observou-se que as partículas eram basicamente cercadas de vácuo, como se este fosse a base do nosso universo (ou pluriverso – pelas visões de múltiplas realidades). Tem uns filmes bem básicos sobre o assunto como o “Ponto de Mutação”, baseado no livro do físico Frijof Capra, que aborda o assunto. Eu realmente não sou especialista no assunto, mas o que puder a gente conversa, rs.

    Concordo que devamos cuidar de nossos sentimentos, mas, de que forma? Me parece que procurando sentir-se sempre bem ou sempre o bem, o bom, recalcamos ou reprimimos todos nossos sentimentos de raiva, angustia, frustração, dor ou mesmo ódio. De que modo isso pode ser propriamente positivo para nosso sistema psíquico, para nós enquanto pessoas? A tendência inevitável, como já mostraram os pais da psicanálise, é o que Freud chamou de “o retorno do recalcado”, isto é, estes complexos ideo-afetivos (para usar um termo junguiano) em determinado momento rompem o limiar de nossa consciência e ai temos que encarar nossos demônios. O pior talvez seja que eles não são, como queria Freud, eliminados com a mera consciência dos mesmos. Fausto fala a Mefístófeles no romance de Goethe,

    Então, talvez, um caminho prudente em vez da morte anunciada do Eu ou de seu controle, seja termos melhores relações com nossa sombra, nosso demonios, mas também com nossas outras "personalidades", isso é, nosso outros complexos relativamente autonomos.

    Perdoe a linguagem entre acadêmica e simbólica, mas acho inevitável.

    Grande abraço,

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  18. Salve Edgar!

    Eu concordo com a maior parte das coisas que você disse.

    Sobre a pergunta sobre sexo e corpos que o atraem para voltar a terra firme me parece adequado, mas confesso que nunca usei esses pensamentos com este propósito. Apenas me parecem adequados do ponto de vista simbólico, porque remetem diretamente a matéria e sua parte mais concreta e “institual” (ou pulsional). Acho um assunto interessante a discussão dos psiquedélico no ato sexual também, que foi um escândalo quando o Leary falou do LSD como afrodisíaco. Claro que gerou opiniões contra e outras a favor, até mesmo estudos foram feitos sobre a temática. Em alguns os parceiros se acharam “distantes” quando tinham usado LSD. Para quem já praticou sobre efeito de psiquedélicos saberá que o efeito é de antemão indeterminado. Se a pessoa não estiver bem não será bom, se tiver poderá ser uma grande experiência.

    Não concordo com você apenas em relação ao panteísmo. O mitólogo Joseph Campbell tem uma série de vídeos no mesmo nome de um livro dele: “O Poder do Mito”. Em um determinado momento ele fala sobre este estado de encontro com o sagrado, do numinoso, que a pessoa cai em êxtase e fala que um dos objetivos de muitas práticas espirituais era justamente fazer que este estado de consciência, que as vezes era encontrado, p.ex, em ritos feitos em pequenas cavernas, grandiosos templos, etc., pudessem estar na própria vida “cotidiana” e sacralizada. A visão panteísta contribui para um estado de contemplação sobre a vida e respeito ao mundo, natureza e cultura.

    Na questão do dentro ou fora da mente podemos ir muito longe. Dar uma volta no mundo de Alice, rs. O máximo que podemos localizar no cérebro são as ligações sinápticas e a liberação, recaptação, etc., de neurotransmissores. O conteúdo do pensamento, a maneira do sentimento de manifestar, nada disso pode ser determinado pelas ligações entre neurônios ou dos sistemas nervosos com o corpo e deste com o meio e vice versa (ligações eferentes e aferentes). Isso é apenas um ponto de vista. Esta questão já era debatida há muito tempo. Durante o empirismo inglês, p.ex, em algum momento adotava-se a idéia de tabula rasa e a máxima de John Locke: “nihil est in intellectu quod non antea fuerit in sensu” (nada está no intelecto que não tenha estado também nos sentidos), e então tudo era visto como derivando do meio, o conhecimento estaria lá, e objetivamente (em forma de representações mentais) seria apenas guardado na psique preenchida. Um mero vaso que se enche. O mundo como fotografia. Mas as certezas foram se desenvolvendo e se ramificando e ainda naquela época vemos um David Hume desconstruir as certezas na realidade do mundo. O que é a causalidade, tantas vezes, senão um mero habito de classificação no tempo? É a causalidade uma categoria a priori da percepção ou ela está na própria dinâmica dos acontecimentos? Talvez esteja entra os dois. Nem no cérebro, nem na natureza bruta.

    Muita luz,
    Fernando

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  19. Aqui novamente.

    Fernando, eu só fiz aquela crítica a um deus transcendental para ilustrar como não é possível manter um pensamento coerente, e dar alguma importância a Deus, se ele estivesse em todos os lugares e estados mentais desde o princípio.
    Por exemplo, não seria inteligente falar que Deus é contra o assassinato, porque Deus também estaria nesse ato, se você admite um deus completamente transcendental, e nem haveria motivo para evolução ou moralidade.

    Trazer o sagrado para a vida cotidiana, ou as atitudes e pensamentos promovidos pela experiência pessoal é uma necessidade para que a experiência pessoal seja válida, na minha opinião. O religio, o verdadeiro religio, não pode ser ignorado, porque se admitimos que ele pode, então temos de admitir que a experiência pessoal não é poderosa o suficiente para mudar o ser humano, e nós sabemos que isso não é verdade.
    O panteísmo é bom, mas pode ser ambíguo. Você pode enxergar a vida em todos os lugares, ou a morte em todos os lugares. Se Deus é Tudo, então ele também é morte, dor, sofrimento e todas essas questões indesejáveis.
    Me parece que é o ser humano que define para si mesmo como verá o mundo o seu redor. Um soldado morrendo é uma perda para uns, uma vitória para outros. Não que eu seja a favor da guerra, guerra é estúpida, mas isso serve para ilustrar meu ponto.

    Verdade, ainda não sabemos como funciona completamente a consciência, e ainda não sabemos como funciona completamente o cérebro, e o quanto estão interligadas. Existem opiniões, transcendentalistas ou materialistas, mas nenhuma está suficientemente bem embasada para se tomar como uma verdade.
    O materialismo tem sido bem sucedido em explicar todos os fenômenos físicos, mas até que ponto será bem sucedido para explicar os fenômenos psicológicos e o que chamaríamos de espirituais, é um mistério. Como explicar, em termos de matéria, projeção astral, contato com seres extra-físicos, anjos, demônios, abduções alienígenas? E, será essa explicação suficiente?
    Eu diria que não. Temos alguma ideia sobre como psicodélicos funcionam no cérebro, mas isso não exclui a utilidade das explicações da psicologia.

    Bem verdade, essa questão de dentro e fora é bem complexa, ainda mais quando você se questiona onde estão os limites. Aí o bicho pega.

    Abraços, esqueci os cumprimentos no final dos meus textos, me desculpem.

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  20. Salve!

    É verdade Edgar,

    O panteismo é mesmo ambiguo, mas também o dualismo teista e mesmo o monoteismo cristão (que é, aliás, muito dualista). Acho que a transformação na imagem de Deus (imago Dei) no cristianismo em relação a antigos movimentos monoteistas como o próprio judaismo, e ai também pensamos na própria Torá ou Antigo Testamento, é inacreditável. É impressionante como Javé passa a ser o summum bonum de Agostinho, e o mal fica totalmente recalcado e aparecerá de forma tão potente na figura do Anti-Cristo ou no anjo decaido tornado Diabo, o separador.

    Uma visão mais integral, hoje, creio que passa também por uma integração desta visão. William Blake já a anuncia, me parece, em Matrimonio do Céu e do Inferno. Se os aspectos maléficos ou que assim nos parecem continuarem simplesmente recalcados, a própria relativa totalidade fica altamente prejudicada e o mal recalcado retorna com muito mais potência. É muito perigoso quando projetamos todo o mal em figuras políticas, em noções economicas ou em determinadas pessoas, pois assim nos alienamos de nosso próprio mal, na verdade, de nossa sombra.

    Essa sombra, se integrada, tem a possibilidade de se tornar diferenciada e em alguns casos positiva. Não nego aqui, é claro, que determinadas coisas precisam simplesmente ser queimadas e extirpadas, mas, de modo geral, é muito mais interessante que possamos integrar a sombra.

    Forte abraço.

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