quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

[Ed. #97] Portas da Percepção: O que é? A Origem do Título!

Para quem não sabe, as Portas da Percepção é um espaço de debate sério, por muita vezes de denso entendimento, proposto pelo nosso amigo e grande conhecedor dos enteógenos, Fernando Beserra. Hojes vale a pena contextualizar o nome dessa editoria a sua referência, oferecendo ao leitor do Hempadão um pouco da literatura de Aldous Huxley no livro "As Portas da Percepção":

 

Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscedência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.

Muitos desses universos são suficientemente semelhantes, uns aos outros, para permitir entre eles uma compreensão por dedução, ou mesmo por mútua projeção de percepção. Assim, recordando nossos próprios infortúnios e humilhações podemos nos condoer de outras pessoas em circunstâncias análogas: somos até capazes de nos pormos em seu lugar (sempre, evidentemente, em sentido figurado). Mas em certos casos a ligação entre esses universos é incompleta, ou mesmo inexistente. A mente é o seu campo, porém os lugares ocupados pelo insano e poelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória individual para servir de base à compreensão ou a ligações entre eles. Falam, mas não se entendem. As coisas e os fatos a que os símbolos se referem pertencem a reinos de experiências que se excluem mutuamente.

Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos vêem é uma das mais confortadoras dádivas. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmo se encaram. Mas e se esses outros pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? Ou, na iminência de ser reencarnado na pessoa de um sonhador, um médium ou um gênio musical, como poderíamos algum dia visitar os mundos que para Blake, Swedenborg ou Johann Sebastian Bach eram seus lares? E como poderá alguém, que esteja nos limites extremos do ectomorfismo e da cerebrotonia, pôr-se no lugar de outrem que ocupa o limite oposto do endomorfismo e da viscerotonia ou (a na oser dentro de certas áreas restritas) compartilhar dos sentimentos de um terceiro que se situe no campo do mesomorfismo e da somatotonia? Para o behaviorista inflexível, tais proposições – suponho eu – são desprovidas de sentido. Mas para aqueles que aceitam, do ponto de vista teórico, aquilo que, na pratica, sabem ser verdade – isto é, que a experiência possui dois aspectos, um externo e outro interno -, os problemas apresentados são reais e tanto mais sérios por serem, alguns, inteiramente insolúveis, e outros só poderem ser resolvidos em circunstâncias excepcionais e por métodos que não se acham ao alcance de qualquer um. É, pois, quase certo que jamais poderei saber o que sentem sir John Falstaff ou Joe Louis. Por outro lado, sempre me pareceu possível que, por meio do hipnotismo, do auto-hipnotismo, da meditação sistemática, ou ainda pela ação de uma droga apropriada, eu pudesse modificar de tal forma minha percepção normal que fosse capaz de compreender, por mim mesmo, a linguagem do visionário, do médium e até do místico.

18 comentários:

  1. Véi, parabéns pra quem entende o que tá escrito nesses textos. Não sei se sou burro demais ou os outros são muito inteligentes. =P

    ResponderExcluir
  2. eu já pensei sobre cores,será que as cores que vejo são as mesmas que você vê ?
    mas essa de entrar no "mundo" e no "sentimento" do outro é o que mais me aflige. :/

    ResponderExcluir
  3. realmente incrível o texo dele, vou ver se arranjo o livro na net =D

    ResponderExcluir
  4. Achei sensácional o conceito de universos isolados que o Huxley usa para descrever a unidade isolada que é a mente das pessoas.
    Quem já teve uma boa viagem psicodélica sabe qual é a sensação de sentir as coisas como se você estivesse fora do seu corpo.
    Salve!

    ResponderExcluir
  5. Eu tive essa matéria na faculdade.
    O cara é gênio.
    "Quem já teve uma boa viagem psicodélica sabe qual é a sensação de sentir as coisas como se você estivesse fora do seu corpo." Concordo.

    ResponderExcluir
  6. tive a matéria, tirando a parte das drogas

    ResponderExcluir
  7. Essa editoria é massa e muito complexa, pois o tema é complexo.

    Todos os usuários de Cannabis deveriam se informar mais a respeito dos temas "Cognição" "enteogenos" e "espiritualidade" pois esses 3 temas estão relacionados entre si, e quando consumimos nossa amada erva ela atua nessas 3 esferas, assim como outros psicotropicos.

    Consumir entorpecentes psicotropicos e muito mais do que procurar um barato, é uma chave para conhecer sua mente e o universo.

    "Homem conheça a ti mesmo e conheceras os Deuses e o universo."

    ResponderExcluir
  8. """""A mente é o seu campo,porém os lugares ocupados pelo insano e poelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória individual para servir de base à compreensão ou a ligações entre eles."""""

    ResponderExcluir
  9. http://enteogenico.blogspot.com/2011/01/salvinorina-e-ska-pastora.html



    :)

    ResponderExcluir
  10. "Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos vêem é uma das mais confortadoras dádivas. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmo se encaram."

    ResponderExcluir
  11. Po eu tenho esse livro em pdf... como faço pra compartilhar aqui??

    ResponderExcluir
  12. esse livro é mto loco.
    a segunda parte, chamada "Céu e Inferno" é mais dahora ainda. é a interpretação que ele faz sóbrio sobre a experiência que ele descreve no 'Portas'

    ResponderExcluir
  13. Recomendo leituras do Sr. Terence McKenna. Muito explicativo e de fácil entendimento.

    Enteogenia a verdadeira religação.

    by RMF

    ResponderExcluir
  14. EDUH.. se você fosse acostumado a ler livros talvez você entenderia!

    ResponderExcluir
  15. @batida também já tive essa brisa das cores. quem garante que você vê o laranja como eu vejo? talvez o meu laranja é verde, e o seu azul, mas chamamos de 'laranja'. e se realmente houver diferentes interpretações de cores, isso pode acontecer para tudo que nossos sentidos filtram: sons, sabores, odores, texturas e imagens. no fundo cada um pode estar construindo sua própria matriz da realidade. brisa.

    ResponderExcluir
  16. muito bom o texto
    temos que aprender a usar os enteogenos e aprimorar nossa visao do mundo atualmente

    ResponderExcluir