[Ed.#121] bONG: Relato Antigo da Negligência da Guarda!

História com mais de dez anos, o relato de hoje faz parte da biografia de um dos membros da Hempada. A narrativa fica por conta dele mesmo.

 

O ano é 1998. Lá estava eu, aluno do 1º ano do 2º grau de uma escola religiosa e tradicional do Rio de Janeiro. Nada jamais manchara minha ficha escolar, intacta até aquele fatídico dia, embora as notas há algum tempo andassem caindo, pelo desinteresse daquela distância da vida chamada (des)educação. Minha alma já suspirava naquela época por algum outro tipo de voo, para além do script “bom menino e só”.

 

 

E sono e os olhos baixos, além de uma coceira frequente nos olhos, já levantava alguma suspeita de que aquele típico rapaz fumasse cannabis, mal sabiam eles que ele jamais experimentara sequer o lícito cigarro de tabaco. E foi assim, seguindo dois outros amigos, numa inconsciência inteiramente motivada, como se levado pelo destino, que o caminho de minha história iria alterar radicalmente. Nas proximidades da escola, num pequeno beco, um dos rapazes acendeu o beque. Olhei, com certo nervosismo. Passou a bola. Peguei o beck, tentei empurrar a fumaça ao invés de puxá-la – sequer falo de tragá-la. A cena ridícula não foi notada pelos outros. Ufa! Pois bem, no segundo momento puxei a fumaça e a soltei pela primeira vez, sentindo a ressonância como um deja vu. Não durou muito aquele primeiro encontro.

 

Uma moto parou bruscamente a nossa frente. Um homem, com roupas normais, puxou uma arma e apontou em nossa direção, falando para encostarmos na parede. Segui suas ordens, afinal, o guarda negligente apontava uma arma para minha cabeça. Ele começa a dar “a bronca”, falando que aquele ato ali era recorrente, que ele era polícia, e que tinha um filho que estudava na mesma escola que nós. Nota: nós, idiotamente, ainda estávamos com a camisa da escola. O suposto policial fala para não olharmos para trás e passarmos a nossa identidade escolar (carteirinha). Quando um dos três amigos tentou argumentar, levou uma coronhada na cabeça. Nervoso, dou minha carteirinha, assim como os outros dois.

 

O sujeito suposto policial – guarda negligente – fala que irá nos esperar na escola, dando à queixa a direção e que era para irmos direto para lá, pois, se assim não fosse, ele iria nos encontrar e depois levar para delegacia. Tudo bem (quer dizer, tudo uma merda). Vou a escola e todos já sabem de tudo. Olhares acusadores me acompanhariam por toda parte e também os olhares temerosos, admiradores, etc.

 

Resultado: os outros dois amigos foram expulsos (“convidados a se retirar”) da escola e eu só poderia continuar lá se fizesse psicoterapia – o que não cheguei a fazer naquele momento, pois saí da escola. Meus amigos ainda deram uma prova de honra, assumindo que fumavam às vezes no beco e que era minha primeira vez.

 

A guarda negligente que aponta arma para a cabeça de garotos (14, 15 anos) que não lhe conferiam nenhum risco mostra o retrato da policia brasileira: despreparada, vil, violenta, ignóbil!